Com o estouro recente do caso envolvendo Vince McMahon e uma ex-funcionária da WWE que teria sido beneficiada dentro da empresa após aceitar envolver-se sexualmente com o dono da maior companhia de luta livre do mundo, muitas matérias fizeram questão de lembrar que esse pode ser o maior caso envolvendo a WWE e Vince McMahon desde o “Escândalo de Esteróides” da empresa em 1994, considerado um dos maiores pontos negativos de toda a história da companhia, que existe desde a década de 50. Mas o que foi esse caso? Vamos relembrar como foi esse momento para a empresa que terá seu julgamento final completando 28 anos no próximo mês.
Conhecida judicialmente como “Estados Unidos contra Vince McMahon“, o caso foi aberto em 1991 pelo FBI, quando foi descoberto que um médico da Pensilvânia chamado George Zahorian que trabalhava como como um dos médicos que ficam próximos ao ringue da (na época) WWF estava manipulando uma alta quantidade de esteróides anabolizantes, e fornecendo-os para os lutadores da empresa na época. A investigação da época dá conta que 90% dos lutadores daquele período utilizavam esteróides anabolizantes, segundo o documentário The Dark Side of the Ring.
Como a justiça descobriu, em cooperação com o Dr. Zahorian que tal distribuição de esteroides acontecia diretamente dos Titan Towers – O famoso prédio onde fica sediado os escritórios da WWE em Connecticut. Eles levam esse nome pois desde a saída da WWWF na NWA nos anos 80 até 1999 a WWE era administrada pela empresa Titan Sports, de Vince McMahon. Em 1999 a Titan Sports mudou de nome para World Wrestling Federation Inc, e posteriormente trocou o Federation por Entertainment em 2002 – então o caso passou a envolver Vince McMahon em 1993, que já estava com problemas com Hulk Hogan, que havia sido o nome mais popular da luta livre nos EUA na década passada e um dos mais destacados personagens do escândalo de esteroides. Hogan estava deixando a empresa e indo para a WCW naquele momento.
Quando Vince McMahon entrou no caso, acusado pela justiça americana como responsável pelo incentivo ao uso de esteróides anabolizantes pelos lutadores da empresa, ele poderia pegar até 11 anos de prisão e pagar uma multa de US$1,5 milhões, algo como 2 milhões de dólares nos valores atuais. A entrada de Vince no caso causou uma grave crise à WWE e a luta livre como um todo nos EUA, com uma desvalorização de cerca de US$5 milhões de dólares e a pior arrecadação anual da empresa no ano de 1993.
Hulk Hogan havia admitido na época que tinha feito uso de esteroides anabolizantes e que tinha até conseguido alguns dentro da WWE, tanto nos escritórios da empresa em Connecticut quanto nos eventos, porém ao testemunhar para o juiz em 1994 que estava cuidando do caso, disse que Vince McMahon nunca ordenou o uso dos esteróides e nem esteve envolvido na aquisição dos anabolizantes utilizados por ele. Outros lutadores e ex-lutadores da época também testemunharam sobre o caso: Ultimate Warrior, Rick Rude, Big John Studd, Tom Zenk, Moondog Rex, The Warlord, Tully Blanchard e Nailz. De todos eles, apenas Nailz, cujo nome verdadeiro era Kevin Wacholz, acusou Vince McMahon de incentiva-lo a usar esteróides, porém Wacholz já estava envolvido em outro problema com Vince McMahon dentro da empresa, o que tirou o peso de seu testemunho.
Um dos maiores nomes da WWE a época, Bret Hart, comentou em sua autobiografia que todos na época faziam uso de esteróides anabolizantes disponibilizados por Zahorian, até mesmo ele, que seria um dos grandes nomes da geração posterior a de Hulk Hogan na empresa ao lado de Shawn Michaels, Undertaker, Steve Austin, entre outros.
Os testemunhos dos lutadores pesaram a favor de Vince McMahon que foi considerado inocente das acusações em 23 de Julho de 1994. Segundo o documentário The Dark Side of the Ring, que abordou o caso no episódio final da terceira temporada da série documental em 2021, o advogado de Vince McMahon na época Jerry McDevitt também foi muito habilidoso em lidar com a situação e foi fundamental para limpar a barra de Vince nesse caso. No dia do julgamento inclusive Vince McMahon apareceu ao tribunal com um cordão cervical, alegando uma cirurgia no pescoço realizada semanas antes, que não aconteceu. O uso do cordão cervical por Vince foi uma tentativa de passar ao juri público uma aparência de vítima em Vince.
O médico George Zahorian, que assumiu a culpa no caso foi sentenciado a três anos de prisão e a perda do seu credenciamento médico por vários anos. Após o caso a WWF criou uma politica interna mais restritiva quanto ao uso de esteróides e alguns lutadores famosos à epoca chegaram a ser demitidos, como foi o caso do “Brittish Bulldog” Dave Boy Smith, que viria a falecer em 2002 vitima de um ataque cardíaco causado pelo abuso dos esteróides.
Naquele momento Vince McMahon não tinha toda a visibilidade que nós conhecemos hoje como o dono da empresa, e o público em geral o conhecia pelo trabalho de comentarista e entrevistador que ele fazia em frente as câmeras. O personagem de Vince McMahon como “The Boss” surgiria apenas em 1997 após a fatídica Montreal Screwjob e através das storylines posteriores com Steve Austin e a Invasion Era.
Vince superou a crise dos esteróides graças ao sucesso da “Nova Geração” da luta livre nos anos posteriores, mas ainda naquela década a WWE era uma federação de luta livre. Na atual crise, em 2022 nós temos uma empresa de entretenimento global com envolvimentos contratuais mais ambiciosos, que foram capazes de fazer a empresa possuir um rendimento anual acima do bilhão de dólares. Diferente do caso dos esteróides, onde a saída da crise envolvia apenas movimentos internos à empresa familiar, agora a WWE encontrará pressão de acionistas e donos de contratos milionários, o que pode piorar (e muito) a situação para Vince.
Seguimos acompanhando aqui no Wrestlemaníacos e em nossas redes sociais os desdobramentos dessa crise, que pode ser a pior dos últimos 28 anos de empresa.
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