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AEW e o wrestling como entretenimento

Na noite da ultima quarta feira (22/09) a AEW realizou uma edição especial do Dynamite, show semanal da companhia que recebeu o nome de Grand Slam, por ter acontecido no Arthur Ashe Stadium (Casa do US Open, um dos Grand Slams do Tênis). O show por si só já se tornava um feito histórico, considerando que o estádio tem capacidade para 15 mil pessoas e estava lotado, sendo assim o maior evento de pro-wrestling dos EUA por uma empresa que não é a WWE desde a WCW em 1999. A AEW então não queria perder essa oportunidade e entregou um espetáculo a altura do feito.

Espetáculo de entretenimento ao público que lotou a arena utilizando o pro-wrestling, essa era a idéia do show. Quando o evento logo começa com uma Dream Match como Bryan Danielson vs Kenny Omega as pretensões da AEW ficam claras: A história a se conferir é a que está acontecendo dentro do ringue, entre os lutadores e o confronto de suas habilidades, e com todo o espaço disponível para eles criarem suas narrativas. E ninguém conta esse tipo de história como Bryan Danielson. O wrestler mais técnico desse século tinha posse do poder criativo de sua propria historia outra vez, agora contra o melhor lutador do mundo do outro lado.

Essa luta claramente vem reforçar o que CM Punk disse quando retornou aos ringues na AEW ha alguns meses: “Eu deixei o wrestling em 2005 (Quando saiu da ROH para a WWE) e agora em 2021 eu retornei.” Bryan Danielson estava retornando ao pro-wrestling também, ali na primeira luta do evento, como se ele tivesse passado pouco mais de uma década apenas treinando leve o que ele fazia dentro dos ringues. Ter uma luta assim contra o campeão principal da companhia acabando num empate por limite de tempo depois de espetaculares 30 minutos é um aviso de que um tempo de televisão do show pode ser investido na história contada nos ringues, e não em promos que muitas vezes trazem elementos eaqueciveis na hora de relembrar tudo que aconteceu.

Em uma deliciosa contradição sobre tudo isso que foi dito até aqui, ontem a atual SmackDown Womens Champion Becky Lynch soltou uma frase interessante em uma entrevista ao Metro, jornal inglês: “Quando as pessoas forem lembrar como foi uma rivalidade eles vão lembrar da história, não dos golpes. O importante não são os flips ou os suplexes, mas sim a história”. Em uma empresa como a WWE que tem repulsa em utilizar o nome Wrestling em seu produto e se reconhecer como um produto de entretenimento, e não wrestling, até que faz sentido, ainda mais com a própria Becky Lynch retornando à empresa depois de quase dois anos afastada e vencendo uma promissora campeã como a Bianca Belair com menos de 30 segundos, revelando pelas entrelinhas da situação que a luta é tratada como uma mera casualidade da situação. Mas a narrativa cai toda por terra após 30 minutos de um evento que começa com Bryan Danielson vs. Kenny Omega mostrando que a história pode estar toda ali, dentro do ringue.

A AEW Womens Champion Britt Baker D.M.D enfrenta Ruby Soho no main event.

Aliás, por falar em repulsa, e aqui vale tanto para o entretenimento quanto para o wrestling, não dá pra comentar o outro acerto desse show na outra ponta: Ruby Soho vs. Britt Baker D.M.D. mereceram o posto mais destacado de um evento como esses. Se falta (e ah como falta) as mulheres com espaços consolidados nos shows semanais de ambas as empresas, Soho e Baker aproveitaram dos holofotes pra mostrar que isso não é nada relacionado a falta de capacidade de dar um show tão espetacular nos ringues quanto qualquer outra luta que poderia ser colocada em um main event desses. O Tony Khan deve saber disso, mas seguimos na vigilância para certificar de que as coisas nesse sentido vão mudar como precisam mudar, com situações que não delimitam a duas promos de backstage entre as mulheres e uma luta de 3 minutos. Queremos o wrestling delas também contando histórias dentro do ringue.

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