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All In: a ambição e o sucesso internacional da AEW

Na ultima sexta-feira a AEW surpreendeu o mundo ao vender 70 mil ingressos para o All In no histórico Wembley Stadium em menos de uma semana, quebrando diversos recordes de publico e renda para uma empresa de luta livre que não seja a WWE.

Graças a isso o apoiador do nosso financiamento coletivo Leonardo Terra resolveu escrever sobre o tema aqui no Wrestlemaníacos, no Espaço dos Apoiadores, confira.

Espaço dos Apoiadores
All In: A Ambição e o Sucesso Internacional da AEW

Mesmo tomando o maior risco desde sua fundação, a All Elite Wrestling se consolidou mais uma vez como uma empresa forte internacionalmente.

Por: Leonardo Terra

          No dia 16 de maio de 2017, um fã no Twitter perguntou ao jornalista Dave Meltzer se a Ring of Honor (ROH) conseguiria colocar 10.000 pessoas em uma arena. Dave foi incisivo na resposta e disse que a alternativa era “impossível àquele tempo”. Foi então que Cody Rhodes, que estava passando por sua reformulação de personagem na ROH disse que o “desafio estava aceito”, e que em alguns meses de promoção, ele faria um evento de sucesso junto com seus amigos próximos Young Bucks (Matt & Nick Jakson) e Kenny Omega.

            O evento idealizado por Cody e os Bucks passou por algumas alterações em sua estrutura. A ideia final era de que o evento se tornaria um show de Wrestling independente, sem qualquer ligação com quaisquer companhias, que reuniria lutadoras de todos os cenários em alta na época, mais especificamente a já citada ROH e a New Japan Pro Wrestling (NJPW). O nome do evento não poderia ser outro senão a aposta mais alta que se pode fazer em um jogo de poker: All In.

Cody Rhodes, Kenny Omega, Young Bucks e Stephen Amell, os nomes por trás do All In em 2018.

            O All In em 2018 foi um sucesso inconcebível que nem o fã de luta livre mais otimista poderia imaginar. Todos os mais de 11.000 ingressos disponíveis para o show foram vendidos em menos de 24 horas. Mas se engana quem pensa que os desdobramentos desse evento se resumem apenas à uma vitória do cenário independente. No dia 1 de janeiro de 2019, exatamente 4 meses após o All In, Cody Rhodes, Hangman Page e os Young Bucks anunciaram a criação de uma nova empresa de Wrestling, que teria o apoio e investimento bilionário do empresário Tony Khan. Era oficialmente fundada, a All Elite Wrestling. 

            É então que, quase 5 anos depois do acontecimento do All In, em uma edição do AEW Dynamite do dia 5 de abril de 2023, o dono e presidente da empresa Tony Khan anunciou o retorno do evento All In, dessa vez sob a alcunha da AEW, e em um palco que ninguém poderia imaginar: o Wembley Stadium, em Londres.  

            Imediatamente o sentimento que toda a fanbase da AEW e os fãs de luta livre de maneira geral foi de total espanto e desconfiança, o que é totalmente natural, visto que estamos falando de uma empresa cujo público recorde havia sido de 21.000 pagantes, e que estaria promovendo um evento em um dos estádios de futebol mais famosos do mundo, com capacidade para mais de 90.000 pessoas. A base mais fiel da AEW se manteve otimista, mesmo contra todos os ataques desonestos de entusiastas da empresa concorrente ou de pessoas que apenas queriam firmar algum tipo de engajamento. A pergunta que pairava no ar era “O que leva essas pessoas a acreditarem tanto que esse projeto tão ambicioso vai funcionar?”. A resposta para essa pergunta remete diretamente à primeira grande aposta que quatro wrestler fizeram em 2018. O chamado “espírito do All In” entrava em ação.

            Por mais chocante que pode parecer, essa afirmação se mostra correta em todos os aspectos. Há de se ressaltar que quando o All In aconteceu em 2018, todos esses mais de 11.000 fãs que lotaram a Sears Center Arena, em Chicago, e todos os outros milhares de entusiastas que estavam assistindo em casa perceberam algo que seria fundamental para enraizar toda a corrente de pensamento que viria a fidelizar os futuros fãs da AEW: eles perceberam que a “unidimensionalidade” do wrestling norte-americano poderia ser finalmente encerrada, já que desde o Downfall da TNA (agora Impact Wrestling) a partir dos anos 2010, não havia nenhuma organização capaz de bater de frente com o total monopólio que a WWE possuía nos Estados Unidos.

            Saber que uma alternativa era enfim possível, era algo que tornou aquela pequena fanbase que assistia aos shows da NJPW e da ROH para ver um tipo de luta livre pouquíssimo explorado no cenário mainstream, em algo gigantesco. O “espírito do All In” fundamentou não apenas a criação da AEW, mas consequentemente uma nova maneira de observar a luta livre americana.

            Afinal, quem imaginaria que alguma empresa, depois do fim da WCW em 2001, seria capaz de lotar um estádio de futebol para um evento de luta livre? Claro que o sucesso da TNA nos anos 2000 foi fortíssimo, mas todos sabíamos que ainda existia um abismo claro entre ela e a maior concorrência. Mesmo com o sucesso que a AEW teve durante seus três primeiros anos, atingindo em 2021 seu maior público pagante (20.000 pessoas no Arthur Ashe Stadium, em Nova York), imaginar que a empresa seria capaz de levar um evento para fora de seu país de origem, em um estádio marcado por eventos históricos certamente seria loucura.

Wembley Stadium: capacidade para 90 mil pessoas. (foto: Economy)

            Para contextualizar isso, eu gostaria de citar aqui uma entrevista que Cody Rhodes deu em 2022, quando já era contratado da WWE, onde ele comentou acerca do grande escândalo de backstage da AEW conhecido como “Brawl Out”, onde ocorreu uma briga generalizada entre integrantes importantes do roster da companhia. A resposta de Cody foi um tapa na cara de todos os fãs, já que ele disse que “o espírito do All In não estava mais na empresa”. Claro que muitos entusiastas da AEW, mesmo que minoria, não levaram em consideração essa fala do Cody, já que ele já havia deixado a empresa e ido para a maior rival. Entretanto, é necessário deixar a ignorância de lado e parar para pensar apenas por alguns segundos. Existe alguém com maior propriedade para falar do “espírito do All In” do que um dos próprios idealizadores do evento? O homem que respondeu o tweet do Dave Meltzer, já citado no início deste mesmo texto, o lutador que ajudou a dar o pontapé inicial para todo esse movimento estaria falando algo errado, dito apenas para polemizar?

            A verdade é que o exercício da empatia se mostra necessário nesse caso. Cody não estava errado, na verdade estava bem longe disso. A AEW após todos os acontecimentos do “Brawl Out” se mostrou muito machucada moralmente. Mesmo com a qualidade irretocável dos shows semanais e PPVs, a empresa pareceu estagnada, não necessariamente em termos de audiência ou números, mas no sentido ambicioso. Aquela empresa cujo objetivo era tentar confrontar o monopólio da WWE, a AEW se acomodou, e mesmo com o produto não piorando com isso, o sentimento de desafio e ambição deixou a empresa aos poucos.

            Analisando esse cenário, o anúncio do novo All In, no Wembley Stadium em Londres recebe uma importância muito mais profunda do que quando analisado superficialmente. O já citado “espírito do All In” precisava ser reativado no DNA da AEW, e um movimento tão ambicioso e arriscado quanto anunciar um show de Wrestling em um estádio com capacidade de 90.000 pessoas e fora de seu país de origem se mostrou como uma decisão perfeita.

            Essa perfeição se mostra evidente quando observamos que a venda de ingressos para o All In em Londres vem sendo um sucesso absurdo e acima de qualquer expectativa. Até o momento da escrita desse texto, já foram vendidos mais de 60.000 ingressos para o evento, um número que simplesmente triplica a maior audiência da história da empresa. Além disso, é a maior venda de ingressos de uma empresa de Wrestling que não seja a WWE, e é a segunda maior venda de ingressos para um evento de luta livre na história do Reino Unido.

Propagandas do All In durante o jogo do Fullham na Premier League (Foto: Twitter)

            Pode-se concluir que o “espírito do All In”, se tornou um pilar imaterial da AEW, e mesmo que se tente evitar, será impossível se separar dele. Esse ideal ajudou na criação do maior evento de Wrestling independente da história da luta livre, fundamentou a criação da All Elite Wrestling, e agora em 2023, consolida o sucesso internacional da AEW, e ativa novamente o sentimento de empolgação para um evento que tem tudo para ser histórico e mudar para sempre a maneira que vemos o pro-wrestling ocidental.

            Se você leu o texto até aqui, eu gostaria de agradecer seu tempo e paciência para dar uma olhada nas minhas opiniões. Gostaria também de agradecer ao Wrestlemaníacos pelo espaço e pela oportunidade de publicar meu primeiro texto sobre luta livre, uma paixão que eu tenho há mais de 12 anos. Eu me chamo Leonardo, sou membro apoiador do Wrestlemaníacos desde novembro de 2022, e produzo conteúdo opinativo e analítico sobre wrestling todos os dias em meu Twitter. Sinta-se à vontade para me seguir lá, o meu perfil é @prowrestlingLT.

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