Quando um novo lutador(a) chega ao posto máximo do esporte, se sagrar campeão mundial da empresa que ele representa, uma missão mais difícil ainda do que a conquista do título começa: A construção de um verdadeiro campeão. A história desse esporte já nos mostrou que existem muitas formas de se consagrar um lutador com a glória eterna de ser um campeão mundial, mas também que a escolha errada na condução do título pode tornar a passagem do cinturão nas mãos do campeão completamente esquecível. Nesse artigo vamos falar do atual campeão mundial da All Elite Wrestling o ‘Hangman’ Adam Page.
Observação importante: O intuito desse texto não é comparar o trabalho feito pela AEW com a WWE visto que ambas possuem suas particularidades, mas sim mostrar através de outros exemplos a forma de construção do campeão feita pela AEW e como poderia ocorrer de diferente.
Quando Adam Page finalmente conquistou o World Championship naquilo que se a internet louvou como “long-term storytelling” devido a toda trajetória do cowboy rumo ao estrelato: A derrota para Chris Jericho na final do torneio que consagraria o primeiro AEW World Champion. A parceria duradoura com Kenny Omega, expulsão da The Elite e o alcoolismo aumentando durante os segmentos mostraram um Adam Page que se afastava completamente do título, e que iniciava a jornada de superação: O trabalho junto da Dark Order de reconstrução da confiança em si mesmo, a rivalidade com Kenny Omega e os Young Bucks. Nós já contamos sobre essa jornada do cowboy aqui anteriormente. E finalmente o Hangman se torna campeão em uma luta espetacular contra seu antigo parceiro. E agora? Em Novembro de 2021 nós temos o campeão mundial da AEW ‘Hangman’ Adam Page recebendo o título na hora certa, mas e seus próximos passos?
Quando se pensa no lutador que vai ser o principal rosto de uma empresa, você precisa escolher de que forma o seu principal lutador vai ser alguém chamativo, principalmente quando ele tem um personagem de herói. Você pode ter um campeão vocal, que chama o povo para o seu lado através de excelentes e inflamados discursos no microfone (John Cena), um campeão que protagoniza segmentos onde ele enfrenta autoridades e sua falta de medo em enfrenta-las é encantador (Steve Austin e CM Punk) e lutadores cujo personagem histórico é extremamente dominante que poucas aparições são o suficiente para mostrar sua força (Undertaker). A construção do reinado de Adam Page no entanto acaba encontrando outros dois obstáculos que tornam mais difíceis a escolha do caminho do cowboy: A empresa é relativamente nova então Page não é um nome “histórico” ainda por não ter profundidade suficiente e a AEW possui muito talento para um limitado tempo televisivo, então suas aparições tem de ser mais certeiras.
Uma das formas de se construir o rosto da companhia é usar ele com muito mais destaque que todo o resto do plantel. Em uma empresa como a WWE que possui 5 horas de shows semanais, dedicar quase 1 hora apenas para segmentos do seu campeão mundial torna as coisas mais fáceis. Quem viu a construção de Roman Reigns na Wrestlemania ficou até enjoado de ouvir as expressões “Head of the Table” “The Ones!” ou “Acknowledge Me!” monopolizando o Smackdown e ainda de quebra aparecendo no Raw a torto e a direito. Mas Reigns é heel, então tudo bem. Mas e quando você tem apenas 3 horas de televisão e muita gente pedindo passagem para aparecer? Colocar Adam Page como destaque até saturar poderia não só criar problemas para a posição de herói (Como foi com John Cena) de Page como problemas para o andamento do show como um todo. Então a AEW faz a escolha perfeita: Mostrar Adam Page com destaque onde realmente importa. Nas lutas.
Se a gente reclama muito tempo de campeões que pouco defendem seus títulos (Como o próprio Roman Reigns) ou que essas defesas de títulos são em lutas medianas (Como o próprio Roman Reigns contra Goldberg ou Brock Lesnar), o reinado de Adam Page é perfeito nesse sentido: Duas lutas clássicas contra Bryan Danielson, a primeira do reinado inclusive com duração de 60 minutos contra uma lenda como Danielson, uma Texas Deathmatch de provação contra Lance Archer e outras três lutas espetaculares: contra Adam Cole em duas delas e contra Dante Martin em uma luta “curta” (Sete minutos) mas que mostrou a capacidade de ambos os lutadores de maneira precisa. As pessoas agora querem ver Adam Page campeão não pelos momentos em que ele tem um microfone em mãos, mas por momentos em que ele tem um título podendo sair de suas mãos.
Adam Page se prova como um campeão criando clássicos instantâneos em seus combates. Ele não precisa falar muito e nem ser o destaque de todos os shows: O “Cowboy Shit” que ele faz sempre que aparece é sempre coisa boa. Em uma empresa que investiu pesado na contratação do que de melhor havia disponível no mercado (Mesmo que isso crie alguns problemas como falta de espaço para todo mundo no show), transformar o reinado de Adam Page em algo histórico pela sua lista de oponentes: Bryan Danielson, Adam Cole… E ai Keith Lee, Malakai Black, CM Punk, Jon Moxley, PAC… Todos capazes de produzir uma grande luta com Adam Page e manter o alto nível do acervo de seu reinado.
Se a AEW erra muito quando se trata do título mundial feminino (Que ainda pode se salvar se a Thunder Rosa for usada da forma correta, o que tá difícil), o título mundial masculino está em boas mãos, e caminhando muito bem, mesmo que a escolha de apresentação do campeão seja diferente do que nós estamos acostumados.
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