Finalmente o maior evento de luta livre do ano esteve entre nós nesse fim de semana. Por mais que a Wrestlemania 38 apresentasse todo um clima de desconfiança por trás de sua construção, em motivos já abordados em textos e podcasts aqui no Wrestlemaníacos, quando ela chegou e sua pirotecnia foi toda disparada, toda a aura por trás do nome e dos ideais do evento vieram à tona. E ai não tem construção de rivalidade ruim o suficiente que nos afaste de aproveitar o que é uma Wrestlemania.
Mas a Wrestlemania 38 finalmente passou, com suas 8 horas de evento e quinze lutas marcadas. Cheias de altos e baixos, surpresas e quebras de expectativas, da forma mais tradicional que a Wrestlemania costuma ser. Nesse artigo vamos apontar os principais pontos positivos e negativos do evento, que numa análise geral saiu melhor que a encomenda.
Caso você não tenha assistido mas está interessado na análise, dê uma olhada em nossa cobertura de todas as lutas aqui no site. Vamos lá discutir sobre os altos e baixos da Wrestlemania 38? Lembrando que isso não é necessariamente um ranking e a diversidade de opiniões existe! Quer discutir sobre algo que você vai ler aqui? Comenta com a gente em nossas redes sociais!
Os pontos altos da 38ª edição da Wrestlemania.
- O American Nightmare Cody Rhodes está na casa.
É incrível como algo que simplesmente todos já tinham ideia que iria acontecer finalmente acontece e mesmo assim arrepia e simplesmente ninguém conseguiu achar ruim ou criticar o retorno de Cody Rhodes à WWE após seis anos longe da maior empresa de luta livre do mundo. A jornada criada pelo Cody que sai da empresa em 2016 como um mísero lutador de midcard com uma gimmick sem nenhum potencial de crescimento e fadada ao fracasso; roda pelas empresas mundo afora buscando reposicionar seu nome e tem participação direta na construção da AEW, a maior ameaça ao monopólio da WWE em 20 anos; cria seu próprio personagem sem as amarras de um booking que pouco ouve os anseios do lutador: Um heel que não se enxerga como heel mas cuja personalidade torna praticamente inviável o apreço do público por ele, para depois voltar para a empresa seis anos depois sendo o responsável pela principal reação do público no maior show do ano.
Rhodes simplesmente venceu a WWE e a percepção que a empresa tinha do potencial dele e de quebra venceu os críticos que achavam que ele era apenas um lutador regular que fazia valer do cargo nos bastidores da AEW pra conseguir o espaço que tinha. Sim, Cody Rhodes provavelmente te venceu.
Inclusive, a forma como o retorno se deu traz um fator bônus para a WWE e o futuro da empresa: A WWE deixou o Cody ser o Cody de 2022. Pode parecer confuso dentro de um projeto que sempre faz questão de lembrar que “O desenvolvimento do personagem tem que acontecer todo dentro da empresa pois a WWE não pode esperar que seu público que não acompanha os acontecimentos para fora da WWE saiba o que é um American Nightmare, por exemplo” e a partir do momento que Kingdom toca, isso passa. Por agora parece algo besta, mas para uma WWE que já demonstrou interesse em personagens como Wardlow e MJF da AEW, que tem seus contratos com Tony Khan com menos de dois anos de duração, mostra que a empresa pode ser novamente um lugar receptivo para personagens já construidos. Lembrem desse retorno quando as guerras contratuais começarem.
- Você não pode escrever WrESTlemania sem a EST: Bianca Belair campeã.
Ser a vencedora da melhor luta do evento é um detalhe perto de tudo o que foi construído a partir dessa vitória de Bianca Belair contra Becky Lynch, que também fez sua melhor luta desde que retornou da gravidez. A derrota de Belair para Lynch no Summerslam do ano passado poderia ter sido determinante para destruir a construção de uma estrela tão grande para a divisão feminina da empresa quanto as Four Horsewomens, mas foi apenas o primeiro tijolo para uma reconstrução épica da campeã.
Se a luta entre Belair e Banks no ano passado além de ter sido muito boa e histórica por todo o simbolismo carregado nela, o reinado de Belair após isso mostrou que não era tão forte quanto a lutadora que carregava o título, faltava substância e a profundidade que a lutadora (naquele momento) recém subida do NXT e que venceu a Royal Rumble não tinha. Mas agora tem.
Belair merecia esse título e está muito mais preparada para segura-lo do que há um ano atrás, graças ao excelente trabalho com Becky Lynch, de ponta a ponta na rivalidade.
- Steve Austin ainda tinha mais uma lata de cerveja guardada. E que especial é Kevin Owens.
Quando a WWE anunciou um “segmento” entre Steve Austin e Kevin Owens no ringue muito se especulou se o que a gente veria era apenas alguns minutos de trabalho de microfone seguido de Stunners e cerveja para todo lado ou se Steve Austin estava voltando oficialmente para uma luta após 19 anos. E foi exatamente na medida certa do que eles poderiam fazer.
Particularmente como alguém que considera Austin o maior de todos os tempos por toda a importância que ele teve para a luta livre, a construção do seu personagem e de suas rivalidades, foi muito emocionante ver ele mais uma vez aplicando stomps (mesmo que mais lentos), suplexes (mesmo que mais simples), sofrendo quedas (E que desespero) e aplicando seus Stunners junto de muita cerveja envolvida. A nível de pro-wrestling a luta foi muito simples, mas a nível de simbologia o que a gente viu foi uma luta do tamanho do AT & T que cobria a cabeça de Steve Austin e Kevin Owens, que também brilhou e provavelmente viveu o melhor momento de sua carreira: Estar na luta principal da Wrestlemania contra o seu maior ídolo de infância e sua inspiração.
De brinde ainda presenciamos o PIOR Stunner de todos os tempos que poderia entrar nos “baixos” do evento mas que foi um desfecho extremamente engraçado para dois idosos que tremiam o mundo da luta livre há 22 anos atrás. Foi tão ruim que foi espetacular.
- Os non-wrestlers que roubaram o show. Pat McAfee = Ratings.
A participação de pessoas de fora da comunidade da luta livre é algo que tá intrinseco à criação da Wrestlemania, desde Cindy Lauper, passando por Mr. T, Muhammad Ali e até Bad Bunny. Só que esse ano havia toda uma percepção geral de que a WWE teria exagerado ao colocar três lutas envolvendo esse tipo de participação no mais importante evento do ano no pro-wrestling. Mal sabia todos nós de que essas participações roubariam o show, principalmente na segunda noite da Wrestlemania.
No sábado Logan Paul fez sua parte e assim como Bad Bunny no ano passado, mostrou que com o treinamento certo dá pra uma pessoa fazer uma luta de acordo. A luta em si foi fraca mas nos momentos em que Paul esteve envolvido tudo deu certo. Não seria um ponto alto do show se não fosse pelo que Johnny Knoxville e Pat McAfee fizeram no domingo.
Pra nós, a luta livre é algo sério demais, mas não devia ser assim em 100% do tempo. Mais do que o esporte, a luta livre é o entretenimento, e a possibilidade da fuga da seriedade e da galhofagem que a luta livre dá é algo que tem que ser aproveitado. Sami Zayn simplesmente brilhou ao realizar com perfeição aquilo que lhe foi pedido: Inserir Johnny Knoxville e a trupe do Jackass e toda a carga de comédia que eles trazem consigo em um combate muito divertido.
Pat McAfee já havia demonstrado uma capacidade de lutar muito bem em sua rivalidade contra Adam Cole no NXT e ontem ele brilhou, não só dentro do ringue com uma variedade de golpes realmente impressionantes quando se coloca em perspectiva que ele é “apenas” um comentarista do show, como fora do ringue quando ele coloca, por exemplo, Seven Nation Army como musica de entrada. O hino do White Stripes é simplesmente a musica mais fácil de se cantar em qualquer torcida de qualquer esporte, e entregar de bandeja um elemento tão fácil pra torcida conseguir apoia-lo foi um dos vários acertos. O envolvimento dele com Vince e Steve Austin posteriormente foi o entretenimento perfeito pra quem queria ver algo sem muita profundidade, depois de horas de show.
Os pontos baixos da Wrestlemania 38
- Ronda Rousey, a campeã do Royal Rumble sem main event e sem rumo.
Um dos motivos por essa caminhada rumo à Wrestlemania 38 ter sido tão abaixo da média foi a péssima escolha dos seus “destaques” logo no começo, na Royal Rumble de Janeiro. Quando Ronda Rousey retorna à WWE depois de uma primeira passagem sem nada muito interessante onde ela sai criticando o esporte, e retorna anos depois demonstrando não ter evoluído em absolutamente nada e mesmo assim é a desafiante pelo título na Wrestlemania, já não havia muito pelo quê os fãs se interessarem em uma das principais rivalidades do evento.
Quando chega finalmente o evento e nem a posição de fechar a primeira noite está disponível (Na minha opinião justa por tudo que representa Steve Austin) e ainda por cima com um combate num spot péssimo, após o retorno de Cody e a aparição de Undertaker, o publico que já estava completamente desinteressado em qualquer coisa que Ronda Rousey poderia fazer estava mais propenso ainda a simplesmente ignorar o que estava rolando.
No final das contas sequer o título Ronda conquistou e dada a situação dela nessa rivalidade contra a Charlotte, uma das melhores da companhia, é difícil imaginar qual seria o próximo passo dentro da empresa faria mais sentido pra ex-campeã do UFC.
- Kofi Kingston, Drew McIntyre, Bobby Lashley e os campeões irrelevantes.
Em um evento de quinze lutas marcadas é muito normal ver lutas com pouca ou quase nenhuma relevância no card. As storylines de começo e meio de card também fazem parte do show e elas tem que acontecer, o problema é quando você começa a analisar os nomes envolvidos nas piores lutas do card e a tristeza que isso dá. Kofi Kingston que lutou junto de Xavier Woods e PERDEU para Sheamus e Ridge Holland (E O BUTCH) em uma luta com desenvolvimento de duas semanas que ainda perigou ficar fora do card incrivelmente é o mesmo Kofi Kingston que protagonizou um dos melhores momentos dos últimos 10 anos quando o “underdog” vencia o campeão Daniel Bryan naquela que ficou conhecida como a Kofimania.
E o Drew McIntyre? O homem que derrotou Brock Lesnar em uma Wrestlemania e que teve a árdua tarefa de carregar o cinturão da WWE diante de monitores no ápice da pandemia foi parar em uma das rivalidades mais chatas dos últimos tempos, que precisou apelar para o Happy Corbin fazendo citações negativas à mãe e a avó de McIntyre para ver se alguém criava alguma motivação para acompanhar o que esses dois fariam na Wrestlemania. E de quebra atrapalharam todo o show quando Angela (Sim, o nome da espada do McIntyre) cortou as duas cordas do ringue. Absolutamente desprezível.
Pra completar a trinca é inacreditável pensar que Bobby Lashley saiu do Royal Rumble, o começo da estrada para a Wrestlemania como o WWE Champion. E que na Wrestlemania ele participou de um combate completamente esquecível contra Omos, que tinha uma invencibilidade mas nem de longe parecia um desafio à altura de um ex-campeão. Lashley ainda demonstrou muito respeito a Omos na luta, mas ele definitivamente não deveria estar ali.
- O completo desprestígio por títulos importantes.
Quando você tem um roster de mais de uma centena de pessoas e cinco horas de show como é o caso da WWE com o Raw e o Smackdown é muito importante você administrar que os lutadores que não estejam direcionados para o título mundial também tenham seus objetivos credíveis para suas participações nos programas de TV. É pra isso que servem os títulos estadunidenses (Que já foi disputado por John Cena e Big Show quando esse ainda era um nome importante na WWE na Wrestlemania 20) e o título Intercontinental (Que já foi a melhor luta de uma Wrestlemania com a disputa entre Shawn Michaels e Razor Ramon – Descanse em paz – na Wrestlemania X) e que esse ano sequer tiveram seus campeões aparecendo de fato no evento.
Com duas lutas na primeira hora do Smackdown de pré-Wrestlemania, onde uma o campeão perdeu uma Battle Royale, é muito difícil creditar qualquer valor aos títulos e imaginar que a disputa do cinturão por qualquer lugar interessante e credível se torne algo “positivo”. Desprestigiar e tirar valor do próprio produto é uma estratégia que simplesmente não faz sentido algum.
- Lesnar, Reigns e a propaganda enganosa da WWE para a luta do ano.
O que fazer quando você é metralhado, ao longo de meses, por alguém te dizendo que você vai assistir à maior luta de todos os tempos da Wrestlemania, na “mais estupenda” Wrestlemania da história, com esse desenvolvimento tomando a maior parte dos shows semanais que você assiste? Quando a pirotecnia vem você dá o braço a torcer e tenta aproveitar, afinal Wrestlemania é Wrestlemania. E quando chega a hora, mesmo com as expectativas lá em baixo, você ainda é decepcionado.
Talvez a terceira luta entre Lesnar e Reigns na Wrestlemania pudesse ser diferente e nós veriamos um combate digno, afinal a WWE não encheu o nosso saco com esses dois por meses pra fazer algo meia boca, não é mesmo? Pois bem, fez e ela não está nem ai. A luta teve 12 minutos e provavelmente foi interrompida antes do planejado devido à uma possível lesão de Reigns no braço, mas simplesmente não havia acontecido nada nos 10 minutos anteriores à lesão que me fizesse pensar que essa luta seria diferente: Apenas uma distribuição desenfreada de suplexes, spears, F-5, superman punches todos os mesmos 4 golpes que esses dois aplicam entre si desde sempre. Nada de novo no front.
O fato da luta ter sido ruim no entanto não interfere em nada no buraco sem fundo em que a WWE se meteu de criar uma próxima rivalidade para Roman Reigns onde a gente pode levantar uma MINIMA IMPRESSÃO de que ele pode perder. A WWE simplesmente alçou Roman Reigns a um patamar tão disfuncional dentro do plantel que qualquer decisão que ela tomar de agora em diante tem um grande risco de ser a decisão errada no final das contas.
É isso. Vale lembrar que o contraponto de opiniões é algo completamente válido, e se você que leu esse artigo até o final quer complementar algo ou discordar de algo que foi dito aqui, procure por esse texto em nossas redes sociais e participe da discussão conosco!
Loading…