Alguém já se perguntou qual a cor da roupa íntima devemos usar para, no ano seguinte, receber bons jogos de pro-wrestling?
Apesar de não ser supersticioso, sempre me considerei otimista em relação ao futuro, inclusive quando o assunto é videogame. Porém, muito embora tenha sido um ano relativamente bom para o mundo dos games, com a aproximação dos consoles da nova geração (Playstation 5 e Xbox Series S/X) e jogos como Resident Evil Village, Forza Horizon 5, It Takes Two, Returnal, Halo Infinite, e muitos outros. Assim como para o universo do pro-wrestling, que viu a ascensão da All Elite Wrestling, o retorno do público e de astros como CM Punk, para citar alguns. O fato é que a união entre os dois cenários não funcionou da mesma forma. Ou seja, 2021 com certeza não foi o ano dos games de pro-wrestling. Longe disso, é certo dizer que a última translação terrestre não deixará lembranças nesse sentido.

Uma breve retrospectiva
Já faz dois anos desde que noticiamos o importante anúncio da WWE, em parceria com a 2K, sobre o futuro da franquia. Na época, o cenário era de extremo fracasso do WWE 2K20, o qual decepcionou a gigantesca maioria da crítica, dos fãs e dos jogadores casuais. Como resultado desse momento turbulento – com eufemismo de minha parte – ambas as empresas vieram a público informar sobre o cancelamento do então próximo jogo da série. Isto é, o WWE 2K21, que então daria lugar ao trabalho de reformulação para o retorno apenas no WWE 2K22. Nesse ínterim, ainda no ano de 2020, a 2K lançou o WWE 2K Battlegrounds, game desenvolvido pela Sabre Interactive e voltado totalmente ao estilo arcade.
Com o lançamento ainda em setembro do ano passado (2020), o WWE 2K Battlegrounds não escondeu a proposta de ser um refúgio de entretenimento e uma alternativa aos jogadores que não iriam receber a anual edição da principal franquia – nem no ano seguinte (2021). Contudo, ainda que tenha cumprido parcialmente sua proposta de “passatempo”, o game – com o perdão do trocadilho – apresentou um tempo de validade muito curto e, com isso, não conseguiu suprir suficientemente a inquietação dos fãs que, apesar de compreensivos, estavam acostumados com o rotineiro ciclo dos jogos da WWE.
Por outro lado, os inúmeros problemas no produto da empresa de Stamford e a crescente demanda do público permitiram espaços para novas ofertas, especialmente da companhia de Jacksonville, na Flórida – a All Elite Wrestling. Assim, semelhante ao que se presenciou no mundo real, dentro dos ringues e nos espetáculos, a AEW oportunamente aproveitou o hiato da WWE para colocar seu nome de vez na área dos videogames.
O marco zero da nova empreitada é datado também em 2020. Mais ao final do ano, quando a AEW reuniu grandes nomes do seu roster e apresentou seus projetos para o ramo dos jogos eletrônicos em uma divertida e convidativa conferência. O semblante de otimismo e expectativa dos fãs viu o evento anunciar três games inspirados no produto de pro-wrestling da empresa. Dois para dispositivos móveis (Android e IOS) e um, como “carro-chefe”, para os consoles.
O primeiro jogo a ser mencionado trata-se do AEW Casino: Double or Nothing, já lançado e disponível nas lojas digitais de smartphones ou equipamento semelhante. Com algum tempo no mercado, pode-se dizer que aquele atendeu à proposta de colecionar uma série de jogos de apostas, como o Poker e afins, em torneios online e offline. No entanto, falhou enquanto marca, visto que não há uma incisiva temática da AEW ou referências de seus lutadores, principal crítica dos usuários.
A dualidade mencionada, porém, não acontece com o segundo game também já lançado: o AEW Elite General Manager. Isso porque, nesse caso, a desenvolvedora Crystallized Games conseguiu entregar de forma satisfatória a experiência de um GM Mode na palma da mão dos players. Isso graças aos itens personalizáveis, atualizações recorrentes de wrestlers e boas opções que obrigam todo fã despender algumas horas na jogatina.
São notáveis os feitos iniciais de uma boa estratégia adotada pela AEW. Entretanto, sua entrada definitiva no mercado ainda depende de um adequado lançamento do AEW Console Game, que deve chegar em 2022 almejando ser o nêmesis do WWE 2K22, que por sua vez buscará a redenção.
O que o novo ano reserva para ambos? Vamos (tentar) descobrir!

O que esperar do WWE 2K22?
A essa altura, é inequívoco afirmar que o cancelamento do WWE 2K21 e o adiamento do lançamento do WWE 2K22 para março do ano que vem foi a melhor escolha da WWE e 2K. Um caminho que prioriza o tempo, o talento e a reflexão parece ser, sempre, o melhor caminho. Todavia a opção por opção está longe de ser capaz de trazer o espírito e a qualidade dos jogos de volta, tampouco de saciar a vontade dos fãs que – como nunca – aguardam pela chegada do novo game. Por isso, é fundamental que os desenvolvedores e a distribuidora tenham compreendido e reconhecido, nesse período, os erros que levaram a tomada drástica de decisão. Isto é, espera-se que a autocrítica tenha sido elemento-chave na repaginação que objetivam os responsáveis. Só assim, de antemão, é que se pode esperar um bom jogo.
É importante ressaltar que o WWE 2K20 está longe de ser um fracasso puramente técnico. Se a WWE e a 2K (e os profissionais envolvidos) pensam dessa forma, então teremos apenas um produto “jogável” no próximo ano, tal qual a série FIFA, sob o comando da EA Sports. Pois, embora tenha sido marcado por seus erros, bugs e glitches, é cada vez mais claro que o game foi um “basta!” da comunidade que não aguentava mais o conteúdo repetitivo, sem inovações e com pouquíssimas melhoras em modos, gráficos ou na própria gameplay. Muito em razão disso que houve compreensão quase que unânime dos jogadores mais fiéis da franquia. Porém, mantém-se a dúvida se os “engravatados” que comandam a direção do WWE 2K22 interpretam o cenário da mesma maneira.
Não obstante as especulações, o banco de informações sobre o próximo lançamento da WWE é tímido e breve. Sabemos e informamos que a 2K planeja disponibilizá-lo em março do ano que vem (2022) e desde então foram divulgados alguns trailers, imagens e trechos de bastidores de desenvolvimento por meio do canal WWE2Kdev. Há meses, contudo, não há qualquer menção das partes envolvidas, salvo a promessa de novos detalhes em janeiro de 2022 – que está próximo.
Ao analisar o que está disponível, deve-se destacar a notável melhora gráfica, resultado da engine (motor gráfico) redesenhada e pelo trabalho de facial scanning. A desenvolvedora também citou novos controles, o que deve impactar – de alguma forma – a jogabilidade. No entanto, ainda que seja visível esse silver lining nas escuras nuvens da WWE 2K, o tempo parece se manter fechado no desenvolvimento dos bastidores. Isso porque os trechos já mencionados e postados aqui no blog não conseguiram criar boas expectativas para o que está por vir. É evidente que não se despreza todo o trabalho de criação de novos movimentos, novas animações de entrada e de celebração de vitória. Mas tudo parece muito pouco para realmente retomar o espírito dos jogos que fizeram sucesso, com seus modos envolventes, divertidos e até viciantes.
Diante disso, é impossível não ficar receoso com o lançamento daqui a alguns meses. O tempo de trabalho estendido pela 2K, inevitavelmente, cria uma via de mão dupla. Por um lado, ganha-se espaço para respirar, criar e pensar holisticamente. Por outro, a expectativa e consequente cobrança dos fãs passa a ser redobrada, que têm esperado compreensiva e ansiosamente pelas novidades.
Com um pouco de clichê – que é de praxe nessa época do ano –, pode-se dizer que 2022 é a segunda chance que todos assentiram para a divisão WWE 2K. Não é o “tudo ou nada”, pois quase sempre há o meio termo, mas é próximo disso. Sem dúvidas, é o momento de a maior franquia de jogos de pro-wrestling emergir. Porém, poucos meses até o lançamento e o resumo é uma incógnita, com meras especulações e opiniões, e a esperança de que todos tenham entendido os reais motivos que levaram os dias ensolarados se tornarem verdadeiras tempestades.

A ascensão da AEW e a sua chegada à indústria de videogames
Conforme citado, o ano de 2020 também foi marcado pelo entusiasmo dos fãs de jogos de pro-wrestling a partir do anúncio da entrada da AEW nesse ramo. Algo que já era esperado, dada a expansão da empresa e de sua marca nos últimos tempos. Assim, algo próximo do que aconteceu – e até hoje acontece – no mundo da luta livre, pôde ser identificado e reproduzido nos videogames. Isto é, a chegada de uma “segunda força” ou uma alternativa para suprir a demanda daqueles insatisfeitos com o produto da companhia que detinha – e ainda detém – o monopólio desse business.
Deixado um pouco de lado os jogos para dispositivos móveis já lançados e abordados no tópico da retrospectiva, passa-se a tentar depreender o que 2022 guarda para a AEW Games. Com esse enfoque, não há outra linha de raciocínio, senão a do game que será lançado para consoles em breve. Sim! Em breve, pois não há sequer um mês de previsão, o que é completamente compreensível. Porém, aguarda-se a chegada ainda para o próximo ano e, se isso não se concretizar, certamente teremos maiores detalhes, vídeos, imagens e outras informações a respeito do desenvolvimento daquele. O que permite – por si só – antecipar e discorrer desde já sobre as expectativas e demais especulações.
A começar pelo que já se sabe (e se viu) do AEW Console Game, pode-se adiantar que o desenvolvimento é de encargo da Yuke’s Future Media Creators, companhia com sede no Japão e responsável por games da WWE, da antiga série UFC Undisputed e outros. Já quanto ao visual e jogabilidade, apesar dos traços de simulação e de bons gráficos, desde o trailer de revelação ficou perceptível a opção pelo estilo arcade – com bastante realismo em alguns movimentos, é verdade. Isso se confirmou com mais especificações a partir do vídeo da primeira gameplay, revelada recentemente. E, guardadas as devidas proporções, é preciso dizer que essa mistura de gêneros lembrou – nostalgicamente – o que a Midway Games fez com o TNA Impact lá em 2008, primeiro jogo da federação de pro-wrestling de mesmo nome (hoje, Impact Wrestling).
É cedo, contudo, para ir além de uma análise puramente superficial. O que cabe assegurar, por ora, é que a ascensão da All Elite Wrestling finalmente refletirá no universo dos videogames, com uma certa credibilidade, aproximação dos fãs (com canais no YouTube e Twitch) e com uma considerável margem para acertar e errar, o que concede uma certa tranquilidade ao pessoal envolvido no projeto.
Portanto, entende-se que o “chegar” na indústria, atualmente, é mais importante e interessante para a AEW do que – de fato – “conquistá-la”. E o primeiro passo será, em breve, concretizado, o que deve, a partir de então, nortear o futuro dos planejamentos e pretensões da empresa, ainda que o seu primeiro grande jogo não consiga entregar tudo aquilo que os jogadores – há anos – anseiam.

Um brinde ao futuro dos jogos de pro-wrestling?
Se as frases e títulos análogos ao ano novo ainda não saturaram, permita-me finalizar com o questionamento: o ano de 2022 para os jogos de pro-wrestling será merecedor de um bom brinde? E para essa pergunta, não há medo em responder que sim. Se não pela qualidade dos games em si, então pela movimentação desse cenário, que voltará a ter vida, com pelo menos um grande nome: o WWE 2K22.
A WWE e a 2K terão a dura missão de retornar ao mercado com a necessidade de trazer algo novo e com superioridade do que foi entregue nos últimos anos. E é de se esperar que isso aconteça, ainda que parcialmente. O tempo de trabalho aumentado e a própria chegada da nova geração devem garantir – no mínimo – uma estabilidade técnica e uma revitalização no visual do jogo. Não creio que vá bastar para retomar a confiança e fidelidade dos usuários, mas certamente criará um ambiente mais amigável para os próximos projetos.
Assim como o WWE 2K22, o AEW Console Game também se mantém como uma incógnita sobre a sua qualidade, provável número de vendas e o sucesso em si. Isso porque, mesmo com o retrospecto positivo da Yuke’s em seus desenvolvimentos, pouco se sabe sobre o primeiro grande lançamento desta nova empreitada. A diferença, porém, em relação à empresa “do lado de lá”, é que a de Tony Khan e companhia não possui a pressão elevada e o ambiente turbulento para entregar algo grandioso. Pelo contrário, a credibilidade que a All Elite Wrestling conquistou fora dos consoles, sem nenhuma dúvida, acompanhará a sua chegada aos games e deve influenciar diretamente em uma recepção muito positiva pelos já fiéis fãs da marca.
Cheguei ao final do artigo e não descobri qual a cor da roupa usar no dia 31 para ter, em 2022, bons resultados e boas surpresas com a união entre videogames e pro-wrestling que – por muito tempo – foram sinônimos de entretenimento e diversão no mais alto nível. O resultado dessa expectativa ficará para daqui trezentos e poucos dias. No entanto, já é possível garantir que o próximo ano será muito mais agitado do que esse ano de 2021 foi. Acredito que, por enquanto, seja suficiente!
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