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Maníacos por Entrevista: Rapha Luque (BWF) – Parte 2

O atual Campeão BWF Internet Rapha Luque volta ao Maníacos por Entrevista para a segunda parte de sua entrevista.

Mesmo com toda a dificuldade de ser wrestler no Brasil, Rapha treina na BWF há quase seis anos. Em sua carreira, já venceu o Guerra das Tribos (com Death Rider e Dinamo), a Copa Anime Friends e 2x o título da Internet. Treinado por Bob Jr. e Insano Igor, Rapha, 24 anos, fez sua estreia em maio de 2013.

Confira a entrevista:

Wretlemaníacos: Raphael Rodrigues, por que “Luque”?

Rapha Luque: Foi um apelido que surgiu na oitava série quando eu e outros dois amigos começamos a imitar os caras do CQC durante as aulas. Um fazia o Rafinha, o outro o Tas e eu o Marco Luque. Troquei de escola e mesmo já nem acompanhando tanto o trabalho do cara o apelido ficou. Até hoje tem uma galera do tempo de escola que fica chocadíssima ao descobrir que eu não tenho Luque no nome kk

WM: O que significa a luta livre pra você?

Rapha: A luta livre foi a minha principal forma de entretenimento durante a adolescência. Enquanto geral assistia os filmes e séries clássicos e do momento eu estava assistindo luta livre. Desde que entrei no mundo da luta livre essa forma de entretenimento virou algo muito mais sério. Pode parecer clichê, mas o amor pela luta livre aumenta a cada evento. Nela encontrei amigos que se tornaram irmãos, encontrei um chefe que é um pai e alívio pra todas as dores de cabeça da vida. Claro que nem tudo são flores e a gente acaba se chateando com muitas coisas que acontecem pelo caminho, mas ainda assim, não vejo a minha vida fora da luta livre.

WM: Já sofreu preconceito por gostar/praticar luta livre?

Rapha: Sempre tem a galera mais desinformada que pergunta “mas é de verdade?” ou aquela mais abusada e metida a Zé Graça que vem com “e essas luta fake aí?”.
No começo eu ficava puto e me incomodava, mas com o tempo fui entendendo que na maior parte dos casos a pessoa realmente não sabe como funciona e aí eu tento explicar que nós temos muito mais a ver com filmes e séries de ação do que com o UFC, que nós declaradamente fazemos um show e não tentamos enganar ninguém. Aquela parada do filme ao vivo sempre funciona.

WM: Fale sobre o show em parceria com a WSW no ano passado. Foi o maior evento em que já lutou?

Rapha: Sem dúvida em termos de organização, estrutura e divulgação foi o maior evento que participei. Foram meses de preparação pra conseguir proporcionar aos fãs o melhor show de luta livre em anos aqui no Brasil. Os nomes gringos agregavam ainda mais na responsabilidade pra manter o nível lá no alto o tempo todo principalmente por Carlyto e Rey Mysterio serem da época da WWE que boa parte do elenco da bwf cresceu assistindo.
A gente sabia que com esses nomes muita gente que não conhecia a bwf iria no show e que também seria a chance de mostrar nosso trabalho impecavelmente pra quem tinha preconceito com a luta livre nacional.
Quando ficamos sabendo do problema com o Rey a nossa responsabilidade só aumentou. Tínhamos noção dessa galera que vinha só pelos gringos e sabíamos das pedradas que íamos receber por justo o maior nome anunciado não vir.
Além desse problema com Rey que só aumentou a responsabilidade que já era grande, ainda tinha o fator William Regal observando de perto o show.

No dia do evento eu ainda tive que ir trabalhar pela manhã. Eram 6h30 do sábado eu estava abrindo o estúdio, mas minha cabeça já tava no ginásio. Deu 13h corri pro ginásio e o clima era diferente. Já tinha uma galera na fila vindo de várias partes do país e esse é mais um fator que aumenta a responsabilidade. Saber do esforço que aquelas pessoas fizeram pra estar ali, mesmo sem Rey Mysterio, só fazia com que eu dissesse pra mim mesmo que elas tinham que sair dali satisfeitas.

Durante a tarde tivemos algumas reuniões e só ali saiu o card final do evento. Sugeri a luta contra o Roddox que é um cara que amo trabalhar e o pedido foi atendido. Um pouco depois chegaram Juve, Carlyto e Chris Masters e estar dividindo os bastidores com esses caras me levou pra época em que o meu caw andava pelos bastidores do SmackDown vs Raw enquanto carregava a próxima luta. Sério, esse foi o momento mais louco. A feud no jogo contra o Carlyto era uma das minhas favoritas e naquele dia eu e ele estávamos ali no mesmo show.

O show tinha começado, eu estava no vestiário e vieram me chamar falando que o público todo estava gritando o meu nome. Só depois quando acabou o evento me disseram que Carlyto disse que não tinha adversário ao altura no Brasil e a galera gritou o meu nome.

Ficamos no ginásio até perto da meia noite desmontando o ringue e tudo mais, mas a euforia durou alguns dias. Era até difícil dormir, mas ver como as pessoas gostaram mais das lutas com os lutadores locais do que com os que vieram de fora foi o que deu a sensação de missão cumprida. Posso dizer que até o Regal ficou impressionado com o que viu, principalmente comparado com o que ele havia visto em 2014. Deixamos boa impressão nos cara e em breve vocês ficarão sabendo de boas notícias.

WM: O que você viu (se viu) de crescimento da BWF após o show?

Rapha: No show com a WSW muita gente conheceu a BWF e viu a qualidade do nosso show. Sempre aproveitamos essas oportunidades de trazer novos fãs, mas dessa vez o porte do evento potencializou esse alcance.

Veja também: Fãs reagem ao BWF Noite dos Campeões II

WM: Por que o fã brasileiro de luta livre pouco se interessa pela luta nacional?

Rapha: Essa é a pergunta de 1 milhão de reais. No caso, dólares haha
Acredito que seja algo cultural. Sempre valorizamos muito mais o de fora que o daqui. Acontece com cinema, com música e até mesmo com turismo.
Obviamente não temos o mesmo poder de investimento pra melhorar algumas partes da estrutura técnica do show. Não temos todo aquele jogo de luzes e pirotecnias, talvez o cara que vê pela tv os dois produtos não se sinta atraído pelo conteúdo nacional.

WM: O que falta para um wrestler viver de luta livre no Brasil? E conseguiria dizer quando isso poderá acontecer aqui, quanto tempo levará?

Rapha: Dinheiro, money, bufunfa, golpinhos kk
Os shows são realizados já praticamente sem recursos, muito mais na raça e na vontade do que com apoio. Quando participamos de um evento ou feira que pague mais pelo show, recebemos um pouco mais e esse pouco mais ainda assim é longe do suficiente pra largar o trabalho e viver de luta livre.
Outro ponto é a frequência de shows. Se não tem show, não tem dinheiro e pela atual situação do país, esse ano tivemos menos e eventos que a média dos últimos anos.
Não consigo dizer quando isso pode mudar. Pode demorar anos, mas pode amanhã aparecer um empresário, emissora ou marca forte querendo investir e bancar a luta livre e estamos feitos.

WM: Seis wrestlers brasileiros foram ao Chile neste mês fazer tryout para a WWE. O que você tem a dizer sobre a WWE ter “notado” a luta livre brasileira mais uma vez?

Rapha: Posso dizer, modéstia a parte, que a WWE não só “notou” a luta livre brasileira, como “notou” especificamente um lugar. Sem menosprezar ninguém, mas hoje há uma distância de trabalhos e quando eles precisaram procurar por talentos aqui foram a um lugar.
Nem sei se poderia dar esse detalhe, mas a princípio eram 3 escolhidos. Uma semana depois rolou uma ligação vinda de lá nos parabenizando pelo show e dizendo que nunca haviam visto uma evolução tão grande num espaço de tempo tão curto, de 2014 pra 2017 o show de fato melhorou muito. Por conta disso outros dois nomes foram escolhidos.
O que posso dizer é que sinto que não será a última vez e que espero que tudo dê certo pros escolhidos.

WM: O que você tem a dizer sobre seu treinador e chefe Bob Junior?

Rapha: São 6 anos de convivência com o Bob e a admiração por esse cara e por toda a correria que ele faz pra manter a luta livre viva só aumentam.
É sério! É fácil dizer que tem uma equipe, se juntar e gravar lutas, mas promover um show, correr atrás de ginásio em outras cidades, ir conversar com prefeito e secretário de Cultura, bater de porta em porta atrás de patrocínio e ainda dirigir um bando de maluco não é pra qualquer um.
Tenho o máximo respeito a todos que se esforçam pela luta livre brasileira, mas o que o Bob faz por ela é diferenciado.
Fora a parte profissional, temos nele a figura de um pai que eu já vi ajudando membros da BWF de várias formas possíveis. Além de grande chefe e patrão, Bob Júnior é uma pessoa incrível.

WM: O que você pensa sobre a atuação dos portais (sites/páginas nas redes sociais) brasileiros de luta livre em relação à luta livre nacional?

Rapha: Penso que os portais precisam de visualizações e por isso focam no conteúdo que o grande público do wrestling acessa. A galera é muito mais interessada no casamento de um WWE superstar do que num evento de luta livre aqui no país.
Pela falta de interesse da galera os sites não costumam focar tanto em conteúdos sobre a luta livre nacional que dão mais trabalho de produzir e acabam não dando o retorno esperado. Existem exceções e no geral, não é pela falta de vontade dos criadores de conteúdo sobre pw no Brasil, faz parte do cenário que vivemos.

WM: O que você tem a dizer para os jovens brasileiros que querem se tornar um wrestler profissional?

Rapha: Se você quer, você vai sair da sua zona de conforto e vai se dedicar aos treinos. É duro, é difícil, você vai ter que abrir mão de muita coisa e até mesmo magoar algumas pessoas que você gosta, mas se você realmente quer você vai ter de correr atrás.
Começando pelo fato de termos poucas academias de luta livre pelo país. Se você quer, você vai ter de dar um jeito e ir até uma dessas academias pra começar a treinar. Sabe aquela história de filme americano da minazinha do interior que vai pra Nova York atrás do sonho de se tornar famosa? É tipo isso, com a diferença de que aqui, no momento, mesmo “tendo sucesso” você vai ter que ter um outro emprego pra manter as contas em dia.

O Wrestlemaníacos agradece imensamente a Rapha Luque pelo seu tempo para nos responder.

> Confira a primeira parte da entrevista com Rapha Luque clicando aqui

> Confira a entrevista com Gabriel Nogueira clicando aqui

> Confira a primeira parte da entrevista com Matths Alves clicando aqui

> Confira a entrevista com Adam Black clicando aqui

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> Confira a entrevista com Max Miller clicando aqui

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> Confira a entrevista com Victor Boer clicando aqui

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