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Na Teia do Aranha #106 – Transição e Aceitação

Salve, povo.

Em mais um texto neste espaço, comento com vocês como uma mudança de gênero ligada à luta livre pode causar uma reflexão importantíssima, especialmente nos tempos em que estamos.

Como sempre, aproveitem a leitura e deixem seus comentários, com sugestões para os próximos pensamentos, ok?

Forte abraço e valeu!

Transição e Aceitação

Alguns dias atrás, chegou até nós a notícia de que Gabe Tuft, mais conhecido pelos seus tempos de lutador na WWE, sob o nome de Tyler Reks, fez sua transição para o gênero feminino, sendo chamada, a partir de então, de Gabbi Tuft (como você pode ver em matéria do nosso site clicando aqui). Para quem a conheceu dentro dos ringues, em sua passagem pela FCW, ECW e SmackDown, em um primeiro momento, uma declaração de mudança de gênero tão repentina pode parecer surpreendente. Mas não é.

Acompanhando a vida dela pelas postagens em suas redes sociais, podemos entender com maior facilidade que essa questão foi um processo de anos, e que só veio a ser falado agora pelo medo que ela tinha da reação alheia, segundo dito por ela: “Este é o meu lado que se escondeu nas sombras, assustada e com medo do que o mundo pensaria; medo do que minha família, amigos e seguidores diriam ou fariam. Não estou mais com medo. Agora posso dizer com confiança que me amo por quem eu sou”.

Por um lado, há que se ficar feliz pelas enormes reações de carinho que ela recebeu por parte de várias pessoas que a conheciam antes e que vieram a conhecê-la devido a repercussão de sua história. Por outro lado, há que se ressaltar as várias reações negativas por conta do fato – em especial por parte de fãs de luta livre estrangeiros, que viram a transição de gênero como algo estranho, bizarro ou até anormal. Alguns até justificaram a mudança pela sua jornada não bem-sucedida na WWE como um homem.

Infelizmente, quanto à violência contra transexuais, não temos muita moral para falar, pois, de acordo com a “Trans Murder Monitoring”, somos o país que mais mata trans no mundo, liderando esse ranking nos últimos 12 anos, com México e Estados Unidos vindo em seguida, fechando esse triste pódio. Claro que melhoramos em alguns aspectos, como a eleição de trans nas Câmaras Municipais no ano de 2020, que aumentou o quantitativo em cerca de 226% – mas ainda está longe de ser o ideal e longe de acabar, pois exige de nós uma autocrítica bastante pesada, que nçao cabe em um simples texto.

O que podemos focar aqui, nesse momento, é que, como Gabbi, existem muitos e muitas que vivem esse drama dentro da luta livre, por ser ainda um terreno inundado de preconceitos de vários tipos. O caso melhor sucedido de lutadora trans da atualidade é Nyla Rose, que vem fazendo um ótimo papel dentro da AEW (foi, inclusive, campeã feminina da empresa por um tempo). Porém, casos como o dela, de Candy Lee e de outros e outras, são muito pontuais dentro de um megaverso que clama por criatividade e aceitação de todos os tipos de pessoas e histórias, mas, o que vemos é o “bonde do cabeludo, barbudo e trevoso” atacando vorazmente, sem dar o mínimo de chance para a imaginação. Depois, não tem a moral para reclamar das baixas audiências e engajamento de seus produtos.

Espero que o caso de Gabbi seja mais uma semente de reflexão no meio desse universo maluco que a luta livre vive, onde o diálogo, o equilíbrio e a aceitação são elementos que ainda estão em muita falta, ainda que existam esforços para essa direção, dentro e fora do Brasil. Que ela seja feliz e que o pro wrestling e seu público abram os olhos para o que está a sua volta, senão, ficarão para trás no caminho da sociedade.

Por Joao Aranha

Gosto de lutinha a um tempo. Escrevo sobre lutinha a um tempo. Comentei lutinha na TV por um tempo. Ídolo do Rato e do Izac Luna nas horas vagas.

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