Fala, meu povo!
De coração, não gostaria de estar escrevendo essa reflexão, pois é algo que, vem ano, vai ano, sempre aparece nos noticiários do esporte. Mas, cá estamos nós mais uma vez para, a partir de um caso que aconteceu recentemente na luta livre, mostrar que não estamos mais em tempo de subjugar as pessoas, especialmente as do sexo oposto. Espero que leiam, reflitam e guardem na mente e no coração para a vida.
Abraços e valeu!
Respeito é bom e elas gostam!
Na data que estou escrevendo esse texto (15/01/2020), fui informado de que Triple H, COO da WWE, em uma entrevista, fez uma brincadeira de muito mal gosto sobre a lutadora Paige, quando foi perguntado sobre a possibilidade da mesma e de Edge retornarem aos ringues. Segundo o ‘Ringside News’, Triple H disse que, agora, Edge tem filhos, e que ela, “provavelmente, tem alguns que ela não conhece”.
A brincadeira, por si só, seria de cunho extremamente duvidoso, por insinuar um tipo de postura o qual não tem como provar, e que a complicaria, por si só, em um universo ridiculamente preconceituoso, como é o da luta livre – comprovado pela reação dos repórteres, com altas risadas. Soma-se a isso o olhar de alguém que pode ter entendido que um homem com filhos tem um olhar diferenciado para uma mulher na mesma condição.
Todavia, o pior de toda essa situação é que Paige, ao final de sua adolescência, viveu o drama de estar grávida e abortar a criança cirurgicamente. E, devido a esse procedimento, ela perdeu a capacidade de gerar filhos naturalmente. Ela revelou ao mundo esse problema, pela primeira vez, em uma edição de 2016 do programa “Total Divas” e a questão de não poder mais gerar filhos foi falada em uma edição de 2017 do podcast “Chasing Glory”, a qual foi entrevistada por Lilian Garcia.
A resposta dela ao fato foi curta, porém, com bastante significado: “Até o meu chefe brinca comigo… não me surpreende que vocês também façam isso”. Afinal, a depreciação e objetificação do feminino nesse esporte são históricos e inseridos de tal forma que, dificilmente, nossa geração verá a solução desses problemas, pois é algo que depende de um bom tempo e mudança de cultura e mentalidade por parte de atletas, fãs, imprensa e todos os demais interessados e apaixonados pelo pro wrestling.
Confesso que o que mais me incomoda, nesse lamentável episódio, não foi o comportamento de Levesque (que admitiu o erro e pediu desculpas a ela pelo fato), ou da imprensa (que apenas replica um comportamento histórico). Mas é a de inúmeros fãs que, pelas redes sociais, apontam todos os dedos para Paige, se apoiando em fatos de sua vida passada para justificar um pretenso merecimento do que foi dito sobre ela. Outros ainda reclamam sobre como o universo da luta livre está chato, com milhares de pessoas protestando sobre o acontecido, e que isso, até a um tempo atrás, era muito normal e que isso é puro grito vazio de uma parcela digna de ser ignorada. Ou seja, gritar sobre algum desrespeito que possa acontecer é puro mimimi, na opinião desse grupo. Então, vamos esclarecer algumas coisas.
Primeiro, todo preconceito ou desrespeito ao outro merece e precisa ser protestado, para que haja o devido pedido de desculpas e correção da atitude. Todos nós, em algum momento da vida, falamos e/ou fizemos alguma bobagem que, a partir do grito de quem se sentiu ofendido, refletiu, admitiu o erro, pediu perdão e reparou o seu comportamento. Assim, a humanidade evolui muito mais ao se tornarem pessoas melhores a partir das lições tiradas pelos erros cometidos, do que somente pelos acertos.
Além disso, já passou e muito da hora dos fãs de luta livre colocarem a mão na consciência e começarem a tratar as mulheres com o devido respeito. Não basta só ser da boca pra fora ou achar que ela é bonita apenas porque você acha que ela tá te dando mole. Elas, assim como nós, têm, dentro da lei, liberdade para fazer o que quiser da vida, sem que nós as tratemos como um pedaço de carne na vitrine do açougue. Porque, sinceramente, se pra mim, que é homem, cansa ver os milhares de comentários nos sites, blogs e perfis de redes sociais chamando as lutadoras de “gostosas pra caralho”, “delícias” e que “passam o piru”, numa proporção bem menor do que os elogios e críticas às lutas, rivalidades e todos os demais aspectos que comentamos dos homens, imagina para elas o quão estressante isso deve ser. Ou será que você nunca viu algum comentário feminino em algum local, cercado de respostas como “manda zap zap” pra pior?
Afinal, parafraseando os antigos (com as devidas alterações): respeito é bom e elas gostam!
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