Salve, povo.
Hoje, infelizmente, não é dia de alegria nesse espaço. Hoje é dia de reflexão. Dia de prestar tributo. De prestar revolta. De mostrar lições.
Clique a seguir, leia, reflita e aproveite a leitura. Abraços.
A vida precisa vencer o ódio.
Sinceramente, não sei o que sairá nas linhas a seguir.
Benjamin Franklin disse, em certa vez, que “o esquecimento mata as injúrias e a vingança as multiplica”. E quero ir à total contramão do que ele disse. Não desejo a vingança da humanidade contra essa situação. Tampouco espero que a gente esqueça esse tipo de situação, colocando em um limbo que, talvez, só favoreça a quem pratica atos tão cheios de maldade. Do que estou falando? Cyberbullying.
Esse termo que é muito falado, mas pouco discutido, por ser, talvez, para alguns, um tabu, deveria ser escancarado por todas as janelas da sociedade. O bullying é apresentado, pela lei federal nº 13.185 de 2016, como uma intimidação sistemática, ”quando há violência física ou psicológica em atos de humilhação ou discriminação”. E quando essa violência é conduzida para o ambiente virtual, ganha o agravante da possibilidade do anonimato.
Segundo a UNICEF, os efeitos de quem sofre a prática do cyberbullying podem se manifestar mentalmente (chateação, constrangimento, incapacidade, raiva, etc.), emocionalmente (vergonha , desinteresse pelas coisas que ama, etc.) e fisicamente (cansaço, falta de sono, dores de barriga, de cabeça, etc). O sentimento de humilhação e discriminação contínua leva as pessoas que o sofrem a serem impedidas de se manifestar sobre o assunto ou, até mesmo, tentar lidar com o problema das formas mais simples possíveis. Em casos extremos, o cyberbullying pode levar as pessoas ao suicídio.
E foi pela via extrema de dar cabo da própria vida que se encaminhou a jovem e promissora estrela do pro wrestling japonês Hana Kimura, no auge dos seus 22 anos, menos de 24 horas de escrever esse texto. A causa? Hana (filha de outra famosa wrestler, Kyoko Kimura) estava participando, recentemente, de um reality show nipônico chamado “Terrace House”, onde seis estranhos moram em uma casa e filmam a rotina dessas pessoas. Por conta de um desentendimento que ela teve com um dos participantes, a internet fez uma das coisas que ela, infelizmente, sabe fazer de melhor, que é gritar palavras de ódio a alguém sem razão alguma. E isso a afetou sobremaneira, como expressado em sua última postagem no Twitter, que segue traduzida:
“Quase 100 opiniões francas todos os dias. Eu não podia negar que eu estava machucada por isso. Eu estou morta. Obrigado por me dar uma mãe. Essa era uma vida em que eu queria ser amada. Obrigado a todos que me apoiaram. Eu amo isso. Eu sou fraca, me desculpem. Eu não quero mais ser humana. Essa era uma vida em que eu queria ser amada. Obrigado a todos, eu amo vocês. Tchau.”
A comoção com a situação foi imediata por todo o globo. E não é para menos: ela não só era uma das lutadoras mais populares e promissoras da nova geração da luta livre japonesa, como era uma pessoa muito bem vista por todos que conviveram com a jovem. O que nos leva ao primeiro ponto de revolta, diante desse caso, que é a da total falta de compreensão de que por trás de uma palavra de ódio está um ser humano, provido de sentimentos e sensações. Mas, lamentavelmente, o que vemos é a propagação da falta de respeito e de uma mínima humildade para assumir os erros e pedir perdão por eles a quem foi ofendido. Por parte das pessoas que praticam isso, há alegria pela subjugação. Há alegria por odiar. E isso entristece profundamente.
O segundo ponto a ser pensado aqui é que uma morte desse naipe afeta não somente a falecida, mas toda uma cadeia de pessoas que está a sua volta. Parentes, amigos, admiradores, dentre outros, sofrerão profundamente a falta de Hana em seu meio, restando a eles a lembrança de alguém que deixou um bom legado em vida. Quem violenta alguém até a morte é desprovido de qualquer inteligência para entender essa cadeia de sofrimento e o tempo em que esse sentimento será devidamente administrado por todo esse grupo – pois, esquecido, ele jamais será.
Outro ponto importante é olhar para nós mesmos diante dessa situação. Afinal, todos nós, em algum momento de nossa existência, fomos algozes e vítimas do bullying – virtual e/ou real. Ou você acha muito normal querer provocar os outros, usando de piadas jocosas devido a sua sexualidade ou necessidade especial ou qualquer coisa que possa, com a palavra certa, derrubar a moral da pessoa em questão? Será que é muito legal a gente apontar os defeitos da pessoa e não compreender que o primeiro ser falho no nosso mundo somos nós mesmos? Será que não é hora de revermos os nossos conceitos?
Pra fechar, é fundamental, a partir de nosso olhar para dentro, saber a nossa relação com o que acontece no ambiente externo. Vamos usar, como exemplo, a comunidade virtual de fãs de luta livre do Brasil. Falou sobre luta livre feminina? Homossexuais? Falou de algum(a) lutador(a) que não está no seu plano dos sonhos de rumo da sua promoção favorita? Alguém tem uma opinião bem fundada, mas que é ao contrário da sua? É mulher e quer ter a sua opinião ouvida respeitosamente? Quer passar como alguém eu conhece tanto quanto o outro, sem se preocupar se será assediada por alguém que parece que jogou testosterona no corpo todo? Algum outro conflito que, às vezes, nem sabemos o porquê daquilo? Senta, que lá vem uma jorrada de chorume destilado por todos os lados possíveis. Por mais que combatamos, essa Hidra sempre se multiplica, e não desistiremos disso.
E que duas coisas fiquem bem claras. A primeira delas é que todos nós erraremos, como pessoas e como grupo social. Já fiz coisas as quais, olhando atualmente, me arrependo profundamente. Nós, do Wrestlemaníacos, já fizemos coisas que, hoje em dia, está muito longe de estar em nosso campo de visão sobre o que é criar um site de luta livre de qualidade. Todavia, a diferença está no nosso processo de amadurecimento – visualizar e compreender o erro, se desculpar com o ofendido e caminhar na vivência e esperança de novos aprendizados.
A segunda coisa é que é inadmissível, nos tempos atuais, permitir que o bullying, em todas as suas espécies e camadas, faça parte de nossa caminhada humana. A morte de Hana Kinura foi um grande exemplo, que mostra algo que existe há muito tempo em nossa sociedade, e que combateremos firmemente, enquanto nos for permitido. Deixo aqui algo bem explícito: se você chegou até aqui e pretende ignorar tudo o que conversamos contigo sobre o cuidado com o próximo, por achar que o que você fala é lei e que quem discorda é que está errado, peço a você o favor de nunca mais acessar esse site e nossas redes sociais. Queremos pessoas que acompanhem o esporte, a arte, o entretenimento e a vida que a luta livre profissional representa ao nosso lado. E que o legado de Hana Kimura seja relembrado a todas a gerações, para que o combate a tamanhas atrocidades causadas pelo cyberbullying seja persistente e insistente. A vida precisa vencer o ódio.
God Speed, Hana-chan.
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