Salve, povo.
Hoje, neste espaço, vamos conversar sobre racismo e discursos dentro da luta livre.
Por que ser tão direto assim? Clique em “leia mais”, reflita e aproveite.
Abraços e valeu!
Olhar para Dentro e Transformar para Fora
Na última semana, o mundo foi tomado de assombro pela notícia da morte do estadunidense George Lloyd, no estado de Minnesota, devido a inconsequência de atos de um policial, que asfixiou o rapaz. Isso gerou (e ainda gera, até a data deste escrito) uma série de protestos acalorados por todos os Estados Unidos. Aqui no Brasil, em intervalo de tempo parecido, o jovem João Pedro, de 14 anos, foi assassinado covardemente por policiais que invadiram sua residência em operação no complexo do Salgueiro, município de São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro. O que esses dois tinham em comum, além da vida a ser vivida? Eram negros.
Diante da gravidade das situações, o mundo se manfestou, através das redes sociais, de maneira contrária a atos tão violentos e de cunho racista, em sua estrutura. O mundo da luta livre não ficou de fora. De lutadores a membros das equipes de produção, a grandiosa maioria se expressou contra o racismo – o que é o mínimo coerente a se fazer. Porém, me saltou aos olhos uma postagem no Twitter da WWE, datada de dois de junho deste ano de 2020, que diz o seguinte:
“A WWE apóia uma sociedade inclusiva e condena a injustiça racial. Estamos ao lado de nossos artistas, funcionários e fãs negros em todo o mundo e incentivamos todos a usarem suas vozes para se manifestarem contra o racismo. Oferecemos sinceras condolências à família de George Floyd e as famílias de incontáveis pessoas que perderam a vida devido à violência sem sentido”.
twitter.com/wwe, em 02/06/2020
Surpreende saber que uma das empresas que mais dá apoio ao governo que endorsa esse tipo de atitude tenha palavras tão bonitas nesse contexto. Começa pelo próprio dono que demonsta, historicamente, seus atos de preconceito não somente de cunho racial, mas quanto a etnia, condição social e afins. O dono da empresa é amigo pessoal do Presidente do país, que talvez seja o maior responsável por toda essa fúria popular, e ainda o colocou em um embate no maior evento de sua empresa e o alçou ao Hall da Fama de sua empresa por… bem, até hoje, não faço ideia da sua contribuição, mas está lá. Além disso, a esposa do dono da WWE, até o ano de 2019, foi administradora da agência nacional de pequenas empresas do governo atual do país, e também é extremamente próxima ao Presidente dos Estados Unidos.
A relegação de performers negros a papeis secundários e a sua exclusão em rivalidades importantes é uma premissa histórica da empresa (por sinal, existe uma boa pesquisa dos nossos amigos do WrestleBR sobre isso, o qual pode acessar clicando aqui), que começou a mudar nos últimos anos, muito mais pela necessidade de tornar o negócio aceitável para o público de fora dos Estados Unidos (que, em sua maioria, é muito mais intolerante a preconceitos do que os de dentro do país) do que, essencialmente, uma mudança de cultura organizacional. Se essa situação não urgisse, talvez, ainda veríamos “blackfaces” e outros estereótipos sem noção sendo propagados, com a justificativa esdrúxula de uma liberdade criativa.
Sinceramente, sendo homem, branco, de classe média e cristão, porto tantos privilégios dentro dessa sociedade que não tenho lugar de fala suficiente para dizer com precisão o quão ruim é o racismo. Mas, o sentimento de empatia me permite perceber e tomar para mim um pouco desse sofrimento causado pelo preconceito racial (dentre vários outros, mas, aqui, esse é o foco), para afirmar que esse é um tipo de atitude que deve ser banida da existência de nossa raça humana. A WWE nunca teve a competência suficiente para fazer uma autoreflexão de qualidade e compreender, a partir da sua importância para o mercado que atua, o quanto que ela pode fazer por essa causa. Somos parte dessa mudança. Não dá mais para ficar calado.
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