Hana Kimura era uma wrestler da Stardom, principal empresa feminina de luta-livre do Japão. Com 22 anos, ela era vista como uma das grandes promessas da atualidade. Querida pelos colegas de trabalho e com uma boa aparência física, ela via a Stardom se preparar para fazer toda empresa girar em torno dela.
Você lê essas informações e, sem saber muito sobre a vida pessoal dela já pensa: “Ora, então porque alguém jovem, com boa aparência, querida pelas pessoas e com um futuro profissional gigante comete suicídio dessa forma?”.
Ocorre que quem vê a casca do ser, não sabe o que ocorre em sua mente. Mal sabem que por trás de todas essas informações positivas pode existir insegurança e baixa autoestima.
Hanae entrou em um reality show (Terrace House) com a meta de fazer crescer o público do pro-wrestling no Japão, que vive uma renascença. Só que o sonho de promover seu esporte virou pesadelo quando a mesma se viu vítima de bullying virtual. Ao invés de ver as pessoas interessadas em seu trabalho, ela viu ameaças, xingamentos e desejos de que se matasse.
Lidar com críticas é complicado em qualquer idade. Com 22 anos então, é ainda mais complicado. O suicídio é a segunda causa mais comum de morte entre jovens de 15 a 29 anos atualmente. A sensação de que o mundo está acabando porque você fez algo que não agradou quem você mais queria agradar é um peso enorme para quem tem pouca experiência de vida. E até mesmo para quem tem muita experiência pode ser um peso complicado de se lidar.
Se lidar com críticas já é difícil, imagine com mensagens de ódio. O bullying virtual é uma praga moderna que demorará a ser combatida, justamente pela falta de recursos que a vítima possui para se defender. É mais cruel do que o bullying tradicional, já que ele nunca vai embora. A mensagem de ódio sempre estará lá quando a pessoa abrir a respectiva rede social, e ela sempre lembrará da mensagem e ocasionalmente voltará a lê-la porque não possui autoconfiança suficiente para superar aquilo.
Nós vimos, recentemente, uma situação de ódio parecida no Brasil. O Big Brother Brasil recente, querendo ou não, fez com que fossem inundadas mensagens de ódio a participantes. Fazendo uma breve pesquisa a respeito, participantes como Flayslane, Victor Hugo ou Daniel relataram o sofrimento causado pelas mensagens que receberam. Boa parte deles relatou precisar de terapia para lidar com a má recepção do público.
Hana viveu tudo isso ao vivo. Ela não ficou em um reality show isolada do público, sem ver as mensagens de ódio escritas ao vivo. Com total acesso a redes sociais, ela pode ver o puro ódio da população ser direcionado a ela, da forma mais cruel possível.
Como alguém que lidou e lida com problemas de autoestima, eu compreendo muito bem o que passou pela cabeça de Hana.Todos nós precisamos refletir sobre o ódio que propagamos na internet. Sugerir ou desejar a morte de alguém por conta de um ato irrelevante realizado em um programa de TV é temerário. Sabiam que o ódio a Hana nas redes sociais do Japão ocorreu porque ela derrubou o chapéu de uma pessoa? Será que é tão diferente do que fazemos no Twitter aqui no Brasil?
A conclusão que chego quando vejo esse ódio ser disseminado em diferentes esferas da internet é de que talvez estejamos perdendo o controle de como se deve agir em uma sociedade. Não somos animais. Deveríamos ser civilizados. Mas talvez a internet esteja permitindo que pessoas animalescas emitem sons nocivos em uma sociedade cada vez mais conectada. Talvez a situação chegue ao ponto que seja necessário adestrá-los.
Será que chegaremos ao ponto de ter de acabar com a (falsa) liberdade que possuímos na internet, para evitar que pessoas xinguem umas as outras como animais irracionais? Talvez a sensação de impunidade que a internet traga precise ser controlada, para evitar que mais pessoas de 22 anos morram simplesmente porque alguém não gostou de ver o seu favorito tendo o boné derrubado.
Loading…