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Steve Austin, a pessoa certa no momento certo

Stone Cold Steve Austin é um dos personagens mais marcantes e importantes da história da WWE. Suas rivalidades contra Vince McMahon e The Rock ajudaram, entre outros fatores, a empresa a vencer a WCW e ganhar o monopólio do mercado. Todos nós conhecemos o impacto que Austin teve na história do wrestling e todos do meio respeitam seu legado. Contudo, existe um fator extremamente forte que contribuiu diretamente para que o personagem fosse aceito e aclamado pelo público.

Sempre vemos uma ligação clara entre Steve e a classe trabalhadora. Seu personagem era a representação de um trabalhador americano comum. O sentimento de não ser valorizado em seu ambiente de trabalho, a sensação de trabalhar constantemente e não conseguir sair do lugar, a prática diária de chegar em casa e só tomar uma cerveja para aliviar os problemas do dia. Todos esses sentimentos, e muitos outros, podem ser percebidos ao longo do tempo em Austin. Um homem que usa sua frustração em relação à sua carreira na WCW para fazer suas promos na época de ECW, que se recusa a desistir no seu confronto contra Bret Hart na Wrestlemania 13 e a relação com a bebida alcoólica. O momento em que o primeiro Stunner é aplicado em Vince funciona como um grito para que todos possam transparecer suas desavenças com os próprios chefes. Em muitos aspectos Austin é um espelho de seu público, e principalmente um herói para a classe trabalhadora.

Steve Austin
Steve em um dos seus vários confrontos contra Vince
Foto: WWE

Mas essa é a única relação? Ser um ícone para os trabalhadores é a única explicação para a grande aceitação do personagem? Para responder isso precisamos olhar para outros elementos do entretenimento da época, que são os filmes, e uma mudança social sofrida pelo papel do homem. A década de 1990 começa a representar uma sociedade onde os homens se sentem presos a regras sociais, corporações e a uma crise de identidade onde muitos começam a perceber foram criados acreditando que o trabalho duro e o respeito às regras iriam gerar frutos em forma de riquezas e realizações pessoais, mas que na realidade, para muitos deles nada muda, tudo permanece o mesmo.

É se utilizando desses fatores que filmes como Clube da Luta (1999, de Chuck Palahniuk) surgem, para servir como uma crítica ao ideal de masculinidade exacerbada, mas que foi abraçado por um público que o reinterpretou como um filme que é um bastião do que significava de fato ser homem, e exaltando o personagem de Tyler Durden (Brad Pitt), que representava o ideal de que para ser homem era necessário exaltar o poder, ser forte ou com outras palavras, ser um “macho alfa”.

Um dos momentos mais famosos da Attitude Era, onde Austin se recusa a aceitar as normas corporativas
Foto: WWE

E onde o personagem Stone Cold Steve Austin entra nessa história? Para muitos o momento do primeiro Stunner em Vince não representava apenas um trabalhador descontando as frustrações em um chefe, representava, também, um homem quebrando as correntes das normais sociais e voltando a ser um homem de fato. Austin sempre foi um personagem conhecido por não levar desaforo para casa e Steven Williams (nome real de Steve Austin) sempre interpretou o personagem com maestria. Ao lutar contra o sistema estabelecido, Austin utilizava vários dos aspectos subversivos que marcaram o final da década de 1990 e atendia um clamor de uma classe social que se sentia perdia.

Stone Cold Steve Austin foi o personagem ideal, para o momento ideal e na empresa “ideal”. Se Steven Williams não tivesse usado suas frustrações para desenvolver o personagem, se o homem médio não estivesse se sentindo amedrontado por perder suas referências de masculinidade tóxica dando lugar a algo menos exacerbado e se o wrestling não atraísse tanto público quanto atraiu durante as Monday Night Wars, o impacto desse personagem não teria sido tão grande. Não digo que eliminando um só elemento dessa equação Austin teria sido esquecido no tempo. Talvez ainda teria tido um impacto, como tantos outros personagens, como The Rock, Foley e cia, tiveram. Talvez tivesse se estabelecido como um main eventer material de época e só. É impossível dizermos o que teria sido se todos esses fatores não tivessem se casado tão bem, mas podemos dizer que todas as segundas uma grande parcela de público ligava a televisão para ver o que Austin iria fazer pelo motivo de terem nele um personagem que representava todas as suas frustrações sendo derrotadas.

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